Dr. Herberth Cavalcante

Dor no Câncer

Mais de 10 milhões de pessoas no mundo são diagnosticados com câncer a cada ano, e 70 a 90% dessas pessoas podem sentir dor em alguma fase da doença. O tratamento do câncer frequentemente se dirige não apenas à doença em si, mas também à dor associada ao quadro, pois esta pode reduzir a qualidade de vida desses pacientes.

Pacientes com dor decorrente de câncer frequentemente experimentam mais de um tipo de dor (neuropática, nociceptiva ou mista), que pode ser constante ou intermitente. A dor do câncer pode ser causada por diversos mecanismos, como invasão direta do tumor (local e sistêmica), resposta à terapia ou ao diagnóstico do câncer (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, e biópsia), ou problemas não relacionados ao câncer (por exemplo: hérnia de disco e neuropatia diabética). Fatores psicossociais (por exemplo: depressão, ansiedade, catastrofização e cognição) podem influenciar a percepção da dor e contribuir para a intensidade da dor total.

A dor decorrente do câncer é, em geral, passível de tratamento, mas uma gestão correta exige uma abordagem multidisciplinar que envolve o conhecimento da fisiopatologia da dor, da farmacologia dos analgésicos e do manejo das questões psicossociais. O tratamento medicamentoso segundo a escada de 3 degraus preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é a base do controle da dor no câncer, entretanto diversas propostas sugerem a revisão e a ampliação do uso da Escala Analgésica da OMS.

O tratamento segundo essas diretrizes apresenta eficácia de 70 e 90% em todos os tipos de dor oncológica, com a prescrição de analgésicos simples, opioides e adjuvantes por via oral. Vias de administração alternativas, como a parenteral ou a transdérmica, podem melhorar a eficácia do tratamento. No entanto, cerca de 10% dos pacientes não respondem bem ao tratamento medicamentoso por muitas razões. Assim, podem ser necessárias técnicas de intervenção, tais como bloqueios de nervos periféricos, neurólises químicas, administração de opioides por sistemas implantáveis, dentro de uma abordagem multimodal da dor.