Ela é a queixa de cerca de 20% dos pacientes que procuram as clínicas ortopédicas e de fisioterapia. O problema pode ter origem em qualquer uma das várias estruturas que formam o ombro, a articulação de maior mobilidade do corpo humano. Mas são as lesões crônicas dos tendões, as chamadas tendinopatias, as responsáveis por nada menos que 40% das ocorrências.
As causas são variadas, entre elas encurtamento muscular, falhas posturais e de alongamento, formato do osso acrômio. Atividades profissionais que exigem movimentos repetitivos dos braços acima da linha dos ¬ombros fazem de seus executores alvos fáceis de tendinopatias. É o caso de pintores de parede, cabeleireiras e pessoas que precisam frequentemente pegar objetos pesados em locais elevados. Esportes como tênis, natação, vôlei, handebol e pólo aquático também predispõem seus praticantes a lesões. E há, ainda, uma estreita relação do problema com o tabagismo, comprovada por estudos. Isso porque o hábito de fumar leva à redução do calibre dos vasos sanguíneos e, consequentemente, à baixa vascularização, o que pode favorecer as tendinopatias do ombro.
O problema manifesta-se geralmente quando a meia-idade se aproxima, pelo desgaste natural dos tendões. As tendinopatias relacionadas ao envelhecimento dos tendões atingem aproximadamente 2% da população mundial. Em crianças e jovens, a ocorrência é bem mais rara e quase sempre está relacionada à prática esportiva. A quase totalidade das tendinopatias ocorre no manguito rotador, um conjunto de quatro músculos e tendões (supraespinal, infraespinal, redondo menor e subescapular) responsáveis pela movimentação e estabilidade da principal articulação do ombro (a articulação glenoumeral).
Cerca de 90% das lesões do manguito rotador afetam o tendão supraespinal que, por sua localização, é mais sujeito a pinçamentos e impactos, além de estar em área menos vascularizada. A dor quase sempre é vaga, podendo irradiar para o braço e pescoço, e aumenta com a repetição de movimentos. Outra importante característica é a dor noturna, que fica mais intensa com a pessoa deitada, independentemente da posição. No estágio I da tendinopatia, que em geral acomete jovens pela prática de atividade esportiva, o tratamento clínico, com repouso do ombro, aplicação de gelo e analgesia costuma ser eficaz na maioria dos casos. Em pacientes jovens, é recomendável a realização de exames complementares para diagnóstico diferencial de tendinite calcárea (deposição de cálcio dentro dos tendões), mais frequente nessa faixa etária.
Dos 40 aos 50 anos, tornam-se mais comuns as tendinopatias do tipo II, resultantes de fibroses de processos anteriores, tornando indicado o tratamento fisioterápico e medicamentoso com antiinflamatórios. Nesse estágio, a indicação de cirurgia não chega a 40% dos casos.
A partir dos 50 anos de idade, cresce a incidência de rupturas parciais e totais de um ou mais tendões. São as tendinopatias do tipo III. Mesmo nessas situações a conduta clínica pode ser eficiente em grande parte dos casos. A cirurgia torna-se a conduta recomendada quando a lesão atinge mais de 50% da espessura do tendão e não há boa resposta ao tratamento clínico. Se não for adequadamente tratada, as tendinopatias nesse estágio tendem a evoluir para problemas mais graves, como a artrose, doença que provoca dores, perda de força muscular e limitação de movimentos.